segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, tentei ser o mais tolerante e compreensiva contigo.
Juro, tentei o mais que pude.
Tentei mostrar-te o quanto gostava de ti e o que significavas para mim.
Tentei muita coisa!
Tentei agradar-te e fiz sempre o que tu querias, mas a verdade era que sempre me fazias sentir que nada do que fizesse era suficiente para ti.
Fizeste-me sentir que eu não era suficientemente boa para ti. Que nada do que fizesse estava bem.
Que nada ia de encontro ás tuas expectativas.
Fizeste-me sentir que não eras feliz comigo.
E isso também doeu. Muito."

Mas era, pensou ele.
Não tinha sido tão feliz com mais ninguém.
A chave da sua felicidade, era ela, e inconscientemente, deitara-a fora.

O QUE NUNCA TE DISSE

Oh não! Pensou ele, o pânico a instalar-se por todo o seu ser!
O que teria ela visto afinal?
Era verdade que ás vezes flirtava com algumas raparigas na Internet, mas sempre fora cuidadoso. Ou pensava que o fora!
Bolas!
Criara passwords estranhas e diferentes para tudo o que o pudesse comprometer!
E, tinha sido tão burro, ou tão distraído, que deixara a conta aberta!!
Até parecia mentira!
Será que a referência dos ciúmes do que ela lia se referia aquele episódio?!
Muito provavelmente!
Ou...haveria mais episódios?
Ou seja, ela só tinha tido acesso á conta dele daquela vez...ou...tinha tido oportunidade de aceder a ela outras vezes?!
Não, não podia ser!
Aquilo tinha sido um descuido seu, nem acreditava que se tivesse descuidado daquela maneira! Mas de certeza que não acontecera por mais de uma vez.
Fora um descuido infeliz.
Bastante infeliz, para dizer a verdade.
Nem acreditava que ela não lhe dissera nada.
Nunca sequer mencionara o assunto.
E, de certa forma, ainda bem, pensou com alívio.
Não tinha nenhuma explicação plausível e aceitável para certas coisas.
Meu Deus! Quantas vezes lhe mentira descaradamente!
E, agora, mesmo com ela ausente sentia o estômago a contrair-se-lhe ao pensar, quantas das vezes ela soubera a verdade e mesmo assim não o confrontara!
Amava-o assim tanto?
Ou não tivera coragem de o confrontar?
Ou achara que não a levaria a lado nenhum?
Talvez se tivesse convencido que ele não mudaria, nunca.
Ou, talvez tenha sido ele, com as suas atitudes, a convencê-la.

sábado, 26 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Sabes, uma vez, talvez por distração ou por esquecimento, deixaste a tua conta do Facebook aberta.
E eu, que não sou de ferro, não resisti a dar uma espreitadela.
Mais valia era ter ficado quieta, pensei quando vi o que vi.
Naquele momento, as tuas palavras perderam todo o significado para mim. Porque foi ali que eu percebi, e só depois de ver é que percebi que eu não era a única a quem as dirigias.
Percebi que as tuas palavras eram as mesmas para todas, e isso fez com que eu deixasse de me sentir especial para ti, porque ali vi que o que me dizias a mim, não mo dizias exclusivamente a mim.
Isso magoou-me mais do que possas pensar.
Constatei que dizias o mesmo a todas.
Fizeste-me sentir que precisavas de um jardim e eu não passava de uma flor.
Uma única e insignificante flor.
Doeu.
Doeu tanto, que nem podes imaginar."

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Sabes uma coisa engraçada?
Ás vezes observo-te quando estás a dormir.
Chega a ser um bocadinho estranho, porque além de me pareceres lindo, fofo e querido, pareces-me vulnerável.
E, isso, sem que eu consiga explicar porquê, desperta em mim um instinto protetor em relação a ti.
Sim, é estranho porque tu não és bem do tipo que necessita de ser protegido, talvez eu é que precisasse de proteção, mas que queres?
Acho que é uma coisa de mulher.
No fundo acho que as mulheres gostam de ter algo ou alguém a quem proteger.
Não sei se é porque possuem o instinto de proteção mais apurado, ou se é a ideia de serem "protetoras" que lhes agrada."

Sim, talvez ela é que precisasse de ser protegida.
Para ser sincero, ele até gostava quando ela era protetora com ele.
Isso mostrava-lhe que ela se preocupava com ele e isso agradava-lhe.
Agradava-lhe muito.

O QUE NUNCA TE DISSE

E, que história era aquela de começar a desligar-se?
Meu Deus! Disse em voz alta, levando a mão á boca.
Ela começara a desligar-se dele, a deixar de dar importância ao que ele dizia e fazia que a magoava.
"Consegues fazer-me mais mal do que bem", escrevera ela.
Ele fazia-lhe mal?
Bolas! Como é que uma simples constatação como aquela, nunca lhe ocorrera?
Fora arrogante demais, convencido demais, para perceber que a estava a perder aos poucos e poucos.
Fora um autêntico idiota.
De facto ela tinha toda a razão, só pensava nele.
Única e exclusivamente em si próprio.
Era um egoísta!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ás vezes até consigo achar uma certa graça ás tuas mentiras, vê lá tu!
Na verdade, acho que começo a desligar-me de ti, talvez seja por isso.
Porque comecei a perceber que ás vezes consegues fazer-me mais mal do que bem, e nem sequer fazes ideia.
Por exemplo, no outro dia disseste-me que ias sair com um amigo, quando na verdade, foste sair com uma "amiga".
E eu, pensei para mim, bom, se não tivesse nada de mal, ter-me-ias dito a verdade, ou estou enganada?"

É claro que não tinha nada de mal!
Na verdade, até tinham acabado por sair em grupo.
Fora uma ideia parva mentir-lhe, tinha que admitir.
Mas, se lhe tivesse dito a verdade, de certeza que ela teria ficado chateada.
E, como teria ela descoberto a verdade?
Bolas!
Afinal, para além de ela saber que ele lhe mentia, também sabia quando lhe mentira!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ás vezes tenho ciúmes.
Sim, é verdade!
Ás vezes tenho ciúmes do que vejo, do que leio, do que oiço e do que consigo imaginar na minha cabeça.
É claro que nunca to disse.
Não queria que o soubesses.
De certa forma achava que não tinha o direito de sentir tal coisa.
De qualquer forma, também não sei até que ponto ia mudar alguma coisa, caso o soubesses."

Ela sentia ciúmes?!
Do que via...do que lia...o que queria aquilo dizer afinal?
Devia ter-lhe dito, claro!
Como ela nunca lho dissera, ele sempre pensara que ela era uma classe rara de mulher que não sentia ciúmes de nada.
Por amor de Deus!
As vezes que a provocara!
E, ela a guardar aquilo tudo para ela. Dentro dela!
O quanto certas coisas que ele fizera a deviam ter magoado!
Sem contar, com as que ela não sabia.

O QUE NUNCA TE DISSE

De facto, ela tinha a sua razão em certas coisas, tinha que admiti-lo.
Acordou depois das nove da manhã, com uma grande dor de cabeça.
Levantou-se, lavou a cara, e, olhando-se ao espelho quase nem se reconheceu.
Estava mesmo com mau aspecto.
Tomou um pequeno-almoço mais ou menos decente e tomou uma aspirina.
O pensamento que lhe perpassou a mente, trespassou-lhe o coração.
Tinha saudades dela.
Tantas saudades!
Ela preocupava-se com ele, cuidava dele. Estava lá quando ele precisava. Sempre disponível para ele.
Para o ouvir, para o apoiar, para o ajudar, para o mimar e acima de tudo...para o amar.
Foi com ansiedade que pegou no caderno cor-de-rosa.
Uma ânsia que até agora nunca sentira, impelia-o a ler o mais que pudesse daquele caderno.
Uma ânsia de estar com ela e com as palavras dela.

O QUE NUNCA TE DISSE

Havia ali tanta coisa que ele nem sonhava.
Inquietava-o a dúvida do que mais poderia ele descobrir.
Imaginava-a ali na sala, ou no quarto a escrever aquela espécie de diário, nos dias em que ele não estava, nos momentos em que ela quisera estar com ele e ele estivera noutro sítio.
Um pouco de alimento vai fazer bem ao meu corpo, pensou.
Não dizem que o açúcar faz bem? Que o chocolate ajuda a combater a tristeza?
Chocolate era capaz de não haver. Ela gostava imenso de chocolate, pensou.
Comeu a primeira coisa que lhe apareceu á frente, lavou os dentes e foi para a cama.
Até acabar de ler o caderno cor-de-rosa, tinha para ele que a sua rotina diária ia ser mais ou menos assim.
Desde que ela se fora embora, praticamente não tinha saído de casa.
Pronto, era irônico, na verdade era, porque enquanto ela estivera, era sempre ele a insistir para saírem,e , agora que estava sozinho, só lhe apetecia era ficar em casa, no seu canto.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Nunca te pedi explicações acerca de nada, porque achei que se quisesses, tu próprio mas darias.
Sinceramente não fazes ideia das vezes que as precisei, mas nunca tas pedi.
Confiei em ti.
Dei-te espaço e opção de me contares o que achasses relevante.
Confiei que me dirias e explicarias o que achasses que era necessário explicares."

O que podia dizer? Era verdade.
Ela nunca fora do tipo de fazer perguntas ou de lhe pedir explicações.
Ele sempre achara que se ela não as pedia era porque provavelmente não lhe interessava saber.
Bom, parece que estavam ambos errados em relação a muitas coisas.
Suspirou e pousou o caderno.
Entrou em casa, com o caderno a balançar na sua mão esquerda.
Tinha que comer qualquer coisa.
Aquele caderno começara a monopolizá-lo.
Não lhe apetecia fazer mais nada que não fosse ler as palavras dela.
Havia ali, naquelas páginas, tantas coisas que ele não sabia.
Havia ali coisas que o tinham afetado de uma forma que não julgava possível.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Tens que te convencer que se não me disseres as coisas, eu não tenho como as saber.
Lá está outra vez a questão do diálogo.
Assim como eu encerro muitas coisas dentro de mim, tenho a certeza que por vezes fazes o mesmo.
Há tanta coisa sobre ti que eu não sei.
Eu sei, não te faço perguntas e, acredita que se não as faço não é por não querer saber, mas sim, porque sempre te dei a liberdade para me contares as coisas de livre e espontânea vontade."

Mas...ele falava....até demais ás vezes.
Bom, nem sempre falava do que importava.
Mas também, se ela queria saber, que perguntasse!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ás vezes irrita-me a extrema importância que dás ao facto de sairmos ou não.
Como já disse, eu gosto de estar a sós contigo, já tu parece que gostas é de mostrar que estás comigo. Dás-me a entender que queres provar alguma coisa a alguém, que queres demonstrar a todo o custo que estás comigo.
Não sei se estou errada, mas é o que me transmites com certas atitudes que tens.
Na verdade gostava que pensasses mais no que me estás a demonstrar a mim, do que te preocupasses com o que estás a demonstrar aos outros.
Para mim vale (mais) o que sentimos um pelo outro (se é que sentes mesmo), do que aquilo que os outros possam pensar ou dizer."

É uma coisa de macho! Apeteceu-lhe dizer.
É claro que gostava de mostrar que estava com ela.
Batalhara tanto, até com ela, para ficarem juntos, que era óbvio que gostava de o demonstrar publicamente!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ao contrário do que tu pensas, eu gosto muito de sair contigo.
Sempre gostei de estar contigo.
Não sei qual o motivo, mas eu sei que tu achas que eu tenho vergonha de estar contigo, e isso não é verdade.
Tenho orgulho de estar ao teu lado, mas, a verdade é que prefiro estar a sós contigo e aproveitar cada segundo ao teu lado.
É claro que entre sair e estar a sós contigo, prefiro estar a sós contigo, ter-te só para mim, onde não tenha que partilhar-te com ninguém. Onde possa estar nos teus braços e desfrutar da tua presença."

Bom, ambos tinham perspectivas diferentes acerca de certas coisas.
Afinal que mal é que tinha irem tomar um café ou um copo com os amigos, de vez em quando?
Também não podiam passar o tempo todo juntos que nem lapas.
Isso, nem sequer era saudável.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Não fazes sequer ideia do efeito que têm em mim certas atitudes tuas.
Não sabes, o quanto me afectam certas coisas que tu dizes e fazes.
Não sabes, e não me pareces sequer muito interessado em saber o que quer que seja."

O que teria ele feito no dia em que ela escrevera esta passagem?
Parecia-lhe irritada com ele.
Meu Deus! Tanta coisa que guardava para ela!
Aquilo só lhe fazia era mal.
Será que nunca desabafava com ninguém?
Será que ela falava com as amigas sobre eles? Sobre a relação deles?

O QUE NUNCA TE DISSE

" Sabes, infelizmente aos pouquinhos acabas por me mostrar que não és "a"excepção, tal como afirmavas ser.
Já percebi que por vezes as pessoas dizem muitas coisas,e , nem todas são verdade.
Suponho que há pessoas capazes de dizer qualquer coisa para conseguirem o que querem
Acho que acabei por fazer uma ideia errada de ti, ou talvez, só tenha visto aquilo que queria ver, ou o que se enquadrava com o que eu sentia."

Não era excepção?!
Com que então, ela só via o que queria e a culpa era dele?
Ela que fosse ao oftalmologista!
Aquele caderno ainda lhe ia trazer muitas dores de cabeça, era o k era!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ás vezes choro.
Já chorei por ti mais vezes do que possas imaginar.
Nem sequer fazes uma pequena ideia das vezes que chorei por ti.
Na verdade, é um bocado estranho, que a pessoa que me deveria fazer feliz, me faça chorar.
Mas choro.
Choro quando estou sozinha, e tu estás sabe-se lá onde.
Choro quando ninguém me está a ver.
A verdade é que não gosto de chorar em frente a ninguém.
Nunca gostei.
Isso já deverias saber, pois só chorei um par de vezes estando ao pé de ti, e se chorei foi porque não aguentava mais. Porque houve muitas vezes em que estive á beira das lágrimas, contigo ali bem ao meu lado, e controlei-me o mais que pude para não deixar as lágrimas cairem dos meus olhos.
É estranho que a pessoa que tem o poder de te fazer feliz, te faça chorar.
Pensa nisso."

Chorava por ele?
Aquele era sem dúvida um lado dela que ele não conhecia.
Um lado mais sensível, mais exposto, mais vulnerável, menos contido e ainda mais sincero.

O QUE NUNCA TE DISSE

"É verdade que no ínicio da nossa relação fiquei insegura, por incrível que pareça e ao trário do que pensavas, a minha insegurança não era em relação aos meus sentimentos, ou ao que eu queria para nós.
A minha insegurança era em relação ao que tu sentias, ao que tu querias e á veracidade dos sentimentos que dizias ter por mim."

Fred pousou o caderno e foi beber um copo de água.
Mais valia beber era já uma garrafa de whisky, pensou com azedume.
Levou o caderno para o alpendre e sentou-se no banco de madeira.
Ali, o caderno cor-de-rosa não lhe parecia tão ameaçador.
Talvez fosse do ar fresco, no exterior da casa que o invadia.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Sim, já percebi que na maior parte das vezes o que tu dizes é bastante diferente daquilo que fazes.
Acho que se pensares um bocadinho, vais concordar comigo.
Há certas e determinadas coisas que tu fazes e não devias fazer."

Ah sim?
Então e ela?
Sentia aquelas coisas todas, tinha aqueles reparos todos para lhe fazer, porque é que nunca lho dissera na cara?

" Eu sei, deves estar a pensar se eu não fiz mais ou menos a mesma coisa, de uma perspectiva diferente.
Se é o que achas.
Num ponto tens que concordar, eu fui sempre sincera em tudo que te disse,e, se houve coisas que não te disse, foi, primeiro por ter esta mania de guardar tudo cá dentro, e, depois porque raramente tinhas disponibilidade para me ouvir, e quando tinhas acabávamos por discordar em tudo.
A verdade é que muitas vezes, e, já por cansaço, decidi ficar calada para não alimentar mais discórdias e discussões."

Fred limitou-se a fazer má cara e a virar a página.

O QUE NUNCA TE DISSE

Bom, pelo menos das vezes em que lá tinha ido, o que não fora mais que um par de vezes.
Tal como contava, foi atendido rapidamente.
Pegou nos sacos das compras e em passo firme e decidido voltou para casa.
Suspirou de alívio por a Dona Angélica não lhe perguntar por ela.
Chegou a casa num instante.
Decidiu arrumar as compras que tinha feito, uma vez que não havia mais ninguém para o fazer.
Lá conseguiu fazer uns ovos mexidos, que comeu com um trigo bem fresquinho, dos que acabara de comprar.
Sentia o estomâgo reconfortado, e talvez se sentisse todo ele, um pouco reconfortado.
Estava pronto para mais uma dose do caderno cor-de-rosa.

" Ás vezes, acho que te aproveitas de mim.
Como daquela vez em que me pediste dinheiro emprestado e nunca mo chegaste a devolver.
Não sei se foi por esquecimento ou foi intencional.
Eu, claro, não tive coragem para to pedir."

Bolas!
Era verdade.
Tinha-lhe pedido dinheiro emprestado, ou melhor, levara-a a oferecer-se para lho emprestar, havia ainda pouco tempo que namoravam, e, sim, não lho tinha devolvido.
Não era propriamente algo de que se orgulhasse.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Sabes o quanto me irrita essa tua mania de me testares?!
Primeiro, devias saber que não tens motivos para estares sempre com esse tipo de coisas. Coisas parvas!
Depois, quando eu percebo que me estás a testar irrito-me e fico enervada, e como consequência acabo por te ignorar e fazer exactamente o oposto do que tu pretendes que eu faça.
Conclusão: acabamos ambos chateados.
Eu por saber que me testas sem teres nenhuma necessidade, e tu, porque eu não passo nos teus testes, seja lá o que for que queiras apurar com eles."

Pousou o caderno e foi até á cozinha.
Olhou com desinteresse para o frigorífico meio vazio, aberto á sua frente.
Precisava era de ir ás compras. Não havia ali grande coisa para comer.
E, apesar de não ter fome, precisava de comer.
Ia mesmo ter que ir ás compras. Isso também costumava ser incumbência dela, pelo menos, na maior parte das vezes.
Pegou nas chaves de casa e na carteira e saiu porta fora.
Não estava com paciência para perder muito tempo ás compras, por isso decidiu ir ao mini-mercado ali do bairro. Não ia demorar mais do que quinze minutos a lá chegar, além disso a Dona Angélica era muito simpática e atendia-o sempre rápido e bem.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Nem sequer sonhas o quanto preciso de ti.
Não fazes sequer a mais pequena ideia do quão importante és para mim, e, ás vezes preciso tanto de ti, do teu abraço, do teu apoio. Preciso de saber que estás comigo, que posso contar contigo.
Mas, por um qualquer motivo que desconheço, não estás.
É quando eu mais preciso de ti, que te afastas, que me deixas sozinha. É exactamente com estas atitudes, que me demonstras muito mais do que possas imaginar.
Eu, ao contrário de ti, não preciso de te testar.
Acabas por demonstrar-me mais do que julgas, mesmo sem eu te estar a testar."

Olhou para o relógio, já tinha passado a hora do almoço, e ele nem sequer tinha comido nada.
Na verdade não era a fome que o preocupava, mas a inquietação crescente que sentia á medida que ia de encontro ás palavras dela.
Deciciu para si mesmo que ia ler mais uma página e depois, apesar de não ter fome, ia comer alguma coisa.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, não gosto mesmo nada quando nos chateamos.
Pode até haver pontos em que discordemos, pode até ser normal haver discussões no seio de um casal, mas eu não gosto.
Arrisco-me a dizer que fico doente.
Mexe muito comigo por dentro, quando não estamos bem um com o outro.
Há muita coisa que eu não demonstro, talvez seja uma técnica, ou mania de me proteger, mas o facto de não demonstrar, não quer dizer que não sinta.
Mas, sinto. Sinto muito mais do que aquilo que possas pensar."

Se calhar ela tinha razão, deviam ter falado mais. Principalmente sobre o que ela sentia. Como se sentia.
Na verdade, nunca dera muita importância ao que ela sentia. Sabia que ela o amava, o que estava para além disso, nunca o preocupara por aí além.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Ás vezes, dizes-me com um ar sério que eu não sei o que tenho.
Na verdade, acho que tu é que não sabes o que tens, e, por isso estás aos pouquinhos e muito u talvez nem tanto) subtilmente a mandar-me embora.
Para ser sincera, gostava que me explicasses ao certo o que queres dizer com isso, porque eu não percebo.
A ti não te tenho de certeza, portanto o que pretendes dizer com isso afinal?"

A mandá-la embora?
Mas, que conversa era aquela?!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, ás vezes queria ter coragem de te olhar nos olhos e perguntar-te o que é para ti o amor.
Gostava mesmo de saber o que te vai na cabeça e no coração, visto que, pelo que me parece, não consegui chegar ao teu coração. Apesar de dizeres o contrário. Bom, acho que deixei de acreditar nas tuas palavras, uma vez que dizes uma mentirinha aqui, uma mentirinha ali, fiquei sem saber no que acreditar.
Para mim, o amor é o que eu sinto por ti. É mesmo. E tu nem sequer desconfias que te amo de verdade.
Não sabes o que tens!
Para mim, amor é carinho, companheirismo, diálogo, apoio, respeito, solidariedade, compreensão, fidelidade, tolerância, afecto, estar presente (não só fisicamente), pensar na pessoa, abraços, beijinhos e carinhos, e tanta, tanta coisa mais.
Sim, é tudo isso que sinto por ti, e talvez até mais."

Fred respirou fundo.
Não sabia mesmo o que tinha.
Tinha. Passado.
Um passado que ele queria, com todas as suas forças, que fosse o presente.
Queria-a de volta.
Só não sabia era se isso seria sequer possível.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Odeio que continues a fazer uma coisa que me irrita, mesmo que te peça para parares.
Mais uma coisa que consegue ser deveras irritante, e tu sabes que eu não gosto.
A sério, odeio que faças coisas que sabes que eu não gosto, porque eu sei que as fazes única e exclusivamente para me irritares, e , voltamos á tua mania de gostares de me irritar só porque sim.
É uma péssima mania, devias pensar seriamente nisso!
Analisando um pouco, é no fundo, uma falta de respeito.
Amor para mim também é respeito, lembras-te?"

Quem me dera ter percebido antes, pensou.
Tanta coisa que me passava verdadeiramente ao lado.

O QUE NUNCA TE DISSE

" A sério, acho que devias abandonar esse teu mau hábito de mentires."

Aquilo parecia-lhe um conselho sincero.
Ele devia era ter parado de lhe mentir antes de ela se ter ido embora.
Talvez devesse ter parado de fazer muitas outas coisas, pensou com arrependimento.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Eu sei que achas pouco provável que eu saiba realmente das tuas mentiras, mas, feliz e infelizmente sei.
Felizmente, porque detesto mentiras e prefiro a qualquer custo saber a verdade, por mais tenebrosa que ela possa ser.
Infelizmente, porque não o esperava de ti, porque as tuas mentiras me atingem com a brutalidade de socos de lutadores de boxe. Porque cada vez que te apanho a mentir, fico destroçada, fico extremamente triste, enquanto tu estás á minha frente a pensar, satisfeito, que te safaste."

Porra!
Quantas vezes teria aquilo sucedido?
Custava-lhe a acreditar que ela nunca o tivesse confrontado.
Bom, provavelmente ia mentir mais para encobrir as mentiras anteriores.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Eu sei que tu me mentes.
Deves estar a perguntar-te como é que eu sei, bom, a verdade é que comecei por te apanhar em pequenas mentiras, que provavelmente tu classificarias de inofensivas.
Para mim, qualquer que seja a mentira, é ofensiva.
Primeiro é uma falta de respeito para comigo, e, para mim amor também é respeito.
E, depois é um ataque á confiança que depositei em ti.
É verdade que odeio mentiras, mas, a verdade é que te amo mais do que odeio as mentiras e por isso muitas das vezes faço de conta que não sei certas coisas.
Pelo menos enquanto tiver paciência."

Como?!
Não era possivel!
Nunca ninguém apanhava as suas mentiras, bom, só a mãe.

sábado, 5 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, ás vezes, acho que devíamos conversar mais.
Não, não é só falar.
Porque acabamos sempre a falar sobre todos os temas, menos, claro, tudo que diga respeito a nós, á nossa relação.
O problema é que tu nunca ouves!
E como achas que só o que te diz respeito é que interessa, acabamos por não conversar de facto sobre coisas importantes que nos afectam, e, que me afectam a mim em particular.
Quando preciso de conversar contigo, quando preciso que realmente me oiças, nunca o fazes.
Para mim, amor também é diálogo.
Ás vezes acho que tentas a todo o custo provar-me que não me amas.
Há tantos dias em que duvido seriamente que os teus sentimentos por mim sejam os que dizes serem."

Como é que aquele simples caderno podia ter aquele efeito forte e devastador nele?
Era um conjunto de pedaços de papel, pensou, tentando desvalorizar o caderno que lhe ocupava as mãos.
Ele sabia que era mais que papel.
Estavam ali enunciados alguns dos seus defeitos. Geralmente as pessoas não acham graça que lhe sejam apontados os seus defeitos.
Ele, não era excepção.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Há uma coisa que me irrita bastante.
Bom, talvez mais do que irritar, odeio que continues a fazer uma coisa que sabes que me irrita, mesmo que te peça para parares.
Sim, é deveras enervante, podes crer.
Não gosto que me irrites.
E, se fizeres o exercicio ao contrário, ou seja, pores-te no meu lugar, vais ver que não é lá muito agradável.
Pensa um pouco, e, talvez concordes comigo."

Bom, sim, de certa forma tinha que concordar.
Não gostava que ela o irritasse,e ela geralmente até nem o fazia.
E, também parava imediatamente de fazer o que quer que ele lhe dissesse que o incomodava.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, odeio essa tua mania de achares que sabes sempre tudo.
É bastante irritante!
Além disso, faz de ti uma espécie de sabichão, ou talvez, um falso sabichão.
Pasma-te, porque ás vezes não sabes!
Ás vezes, nem sequer fazes ideia de coisas muito simples até!
Antes de falares, e de deixares má impressão, pensa e OUVE.
Não há ninguém que saiba tudo
Eu sei, deve ser difícil para ti acreditares, mas é a verdade."

Bom, que óptimo iniciar da manhã, pensou.
Aquela mania dele devia mesmo irritá-la, era a segunda vez que o mencionava.

O QUE NUNCA TE DISSE

Não demorou muito até voltar a acordar.
Era assim quando se sentia ansioso em relação a algo.
Por mais que quisesse e precisasse de dormir,acabava por não conseguir dormir grande coisa.
Levantava-se mais cansado do que se deitava, porque passava o tempo todo a virar-se para lá e para cá, na tentativa de adormecer.
Fechou os olhos e ordenou ao seu cérebro que lhe adormecesse o corpo, sem grande convicção. O estupor raramente lhe dava ouvidos.
Quando o sol deu o ar da sua graça, e anunciou que o novo dia tinha acabado de começar, Fred levantou-se. Tinha a sensação que tinha sido atropelado ou assim. Afinal, ir para a cama tinha tido um efeito ainda pior do que a noite em que tinha ficado no sofá.
Não tinha descansado.
Tomou um duche rápido e foi preparar o seu café, forte e sem açucar.
Bem, ao estilo da sua vida neste momento, pensou com ironia.
Não tinha fome.
Estava ansioso por voltar a pegar no caderno cor-de-rosa.
Graças a Deus tinha pedido uns dias no trabalho, se não ia ser penoso conseguir abstrair-se do caderno cor-de-rosa enquanto tentava trabalhar.
Sentou-se no sofá depois de pousar a caneca de café na mesinha de apoio onde estava depositado o caderno.
Pegou nele e respirou fundo, como que a preparar-se para uma tarefa que lhe exigiria um enorme esforço.

"Adoro que me dês beijinhos no pescoço.
Não sei se é algo que já saibas, cá para mim acho que não sabes.
Não fazes ideia do potencial que tem um acto tão simples.
E, digo que cá para mim não sabes, porque é uma coisa que não fizeste mais que um par de vezes. Eu teria gostado que o fizesses mais vezes, porque ao sentir os teus lábios de encontro ao meu pescoço sinto uma espécie de interruptor a ligar-se em mim, que faz espalhar uma espécie de corrente eléctrica por todo o meu corpo.
Hum, e também não sabes que...com um par de beijinhos no pescoço eras capaz de me convencer a fazer, bem...praticamente o que quisesses."

Wow!
Isto ele não sabia mesmo!
Deu uma golada no seu café azedo.
As coisas que ele não sabia!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Odeio essa tua mania irritante de achares que sabes sempre tudo!
Precisas de te convencer que ás vezes não sabes!
Até podes pensar que sabes, mas se pensares um bocadinho, vais perceber que não sabes assim tanto.
Podes presumir que sabes, mas no fundo não podes ter a certeza de muitas coisas."

Fred olhou para o relógio, era tardissimo!
Precisava de dormir.
Nem sequer tinha dado pelo passar do tempo, enquanto estivera a ler aquela espécie de diário.
Queria ler tudo.
Queria saber tudo aquilo que ela não lhe dissera.
Tudo, que ele não estivera disposto a ouvir.
O caderno cor-de-rosa faiscava-lhe as pontas dos dedos que ainda mantinha em contacto com ele.
Precisava mesmo de dormir.
E, uma pausa agora, parecia-lhe uma coisa aborrecida, mas, na verdade, precisava de fazê-la.
Precisava de dormir, mas, precisava também de se afastar um bocadinho daqueles relatos, em certa medida perturbadores, vindos dela.
Precisava de um bocado para encaixar algumas das coisas que lera, na sua cabeça.
Por outro lado, sentia uma ansiedade crescente no seu interior, que o impelia a querer voltar a ler, a ler tudo, a sorver cada palavra dela.
Respirou fundo.
O caderno cor-de-rosa ia continuar ali, portanto o melhor mesmo era ir descansar um bocado.
Levantou-se vacilante e foi para o quarto.
Não ia aguentar outra noite dormida no sofá.
Olhou desinteressado para o quarto, que, a bem dizer estava uma confusão. Fez um anotamento mental, teria que dar um jeito naquela casa. Hum...e as paredes daquele quarto estavam a precisar de ser pintadas. Talvez, estivessem a precisar de uma cor mais...enérgica.
Tirou as calças e as meias e deitou-se, apenas de boxers e t-shirt, no lado que costumava ocupar. Mesmo agora, que ela se tinha ido embora e tinha a cama só para ele, continuava a deixar o lado que costumava ser o dela livre.
Pensou nela, no seu sorriso e no olhar apaixonado com que o olhava muitas vezes, antes de adormecer.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Passas a vida a dizer que há rapazes piores que tu.
Talvez tenha que concordar.
Mas, o que tu ainda não percebeste é que os outros não são chamados á questão.
Porque, caso não tenhas percebido, só TU e apenas TU me importas!
Estou-me pouco lixando que haja pior, ou até melhor, porque o único que me interessa e em quem eu estou interessada, fixada e apaixonada, és TU!!!"

Ora bolas! Se aquilo não era uma declaração!!
Mais uma vez ela tinha razão.
Era verdade que ele o dizia.
E, aparentemente sem motivos, porque o único homem que lhe interessava era ele.
Já ele, por outro lado, tinha interesses...que...iam para além dela.
Não era bonito, mas era verdade.

O QUE NUNCA TE DISSE

Sim, era um bocado egoísta.
Até a mãe já lhe tinha apontado esse defeito.
Só nunca percebera que podia ser um defeito assim tão horrível.

" Outra coisa que eu detesto é que sejas tão pouco compreensivo. Deve ser esse teu lado de só tu e tu e mais tu.
Nem sequer fazes um esforço para tentares ser um bocadinho compreensivo comigo.
Consegues ser inflexível, e isso, muitas vezes deixa-me de rastos. E tu, nem sequer sonhas."

De rastos?
Deu mais uma golada no seu whisky.
Sabia que não era um rapaz certinho, mas daí a deixá-la de rastos!

O QUE NUNCA TE DISSE

O quê??
Levantou-se e foi buscar a garrafa do whisky para perto de si.
Parecia que iria precisar de muito mais que um copinho de whisky.
Bom, certamente o caderno cor-de-rosa, de cor-de-rosa tinha única e exclusivamente a capa.
As palavras dela estavam a começar a mexer com ele.
Ele magoara-a. Magoara-a muito, e só agora começava a percebê-lo.
Aquilo, as palavras dela, por estranho que parecesse, aquilo não era uma vingança.
Não o via como uma vingança.
Ela não era o tipo de pessoa que o quisesse magoar, sempre fora boa para ele.
Achava até que preferia magoar-se ela, a magoá-lo a ele.
Não era uma vingança.
Ela não era vingativa.
Percebia agora, que ela apenas queria que ele soubesse o que ela sentia.
Tantas coisas que deixara passar ao lado!

"Sim, é com alguma tristeza que constato que és um bocadinho egoísta.
És muito, tu, tu e tu.
O que tu queres, o que tu gostas, o que te afecta, o que te faz infeliz, o que não gostas, o que te acontece a ti, o que tu sentes.
Bem, pelo menos, pensamos ambos na mesma pessoa. Creio que esse é o lado positivo.
Porque afinal de contas, com tanto tu, tu e tu, sobra pouco ou nenhum espaço para mim, para o que eu sinto, para o que eu quero, para o que eu preciso."

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Se ela alguma vez sentira que ele fizera o que quer que fosse...oh, merda!
E, fizera! Fizera mesmo!

" Também não gosto, não gosto mesmo nada quando me dizes as coisas sem as sentires, quando me dizes as coisas que achas que eu quero que digas.
Só gostava que fosses sincero comigo.
Não quero que me digas que me amas só porque achas que eu gostaria de o ouvir.
Oh, sim, a verdade é que adoro quando o oiço, mas ia adorar mesmo era que fosse verdade. Porque, me deixa triste que me digas algo que não sentes.
Só queria que me dissesses a VERDADE."

- Mas eu AMO-TE. - deixou ele escapar em voz alta.

" Deves ter muita atenção a isto: Não se deve brincar com os sentimentos das pessoas, em circunstância alguma! E, no fundo é o que acabas por fazer quando dizes que me amas, sem na verdade me amares.
Devias pensar nisso!
Não sabes, e espero que nunca venhas a saber o quão doloroso isso é!"

Sim, tinha de facto feito algumas coisas que não devia. Muitas, até, pensando mais a fundo.

" Para que saibas isso acaba por ser uma forma de mentir.
Se me ouvisses, sabias que eu ODEIO MENTIRAS.
Ah...pois...tu não ouves!
E, por muito triste que isso me deixe, não te importas muito com o que eu gosto ou deixo de gostar."

O QUE NUNCA TE DISSE

Ela sabia?
Que eu não era dela?
Mas, a que estaria ela a referir-se exactamente?
Será que ela...será que ela SABIA?

"Adoro, para lá do universo, quando fazemos amor.
Gosto de ter-te em cima de mim, de sentir o teu peso, sentir-me quase que aprisionada debaixo do teu corpo. Sinto-me tua.
Adoro sentir o teu toque no meu corpo, é uma sensação imensamente boa.
Nem sequer sonhas o que o teu toque, a tua pele, o teu cheiro provoca em mim."

Sim, ele sabia que ela tinha preferência pela posição tradicional, apesar de, praticamente nunca se ter negado a nenhuma proposta que ele fizesse.
Decicidamente, também ele gostava de fazer sexo com ela.

"Adoro ficar abraçada a ti, depois de fazermos amor. Estar nos teus braços deixa-me no céu.
Eu sei que não é bem a tua onda, mas, teria gostado que pelo menos uma vez me abraçasses porque o queres fazer e não porque achas que o deves fazer."

O quê?!
Aquilo já era algo que...parecia um ataque, apesar de aquelas palavras lhe parecerem hostis, parecia-lhe que foram escritas por ela com alguma tristeza.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Ás vezes olho para ti e só consigo pensar "Meu Deus, como te AMO!", e amo mesmo.
Olho para ti com os olhos cheios de amor e penso para mim que és a pessoa mais bela que eu já vi.
Bom, tendo em conta os olhares alheios, provavelmente és."

Pegou no copo e bebeu um trago do seu whisky.
Ela era bem mais linda que ele, em todos os sentidos, e, ele percebera-o tarde demais.

" Sabes qual é a melhor parte do meu dia?
Quando chegas a casa.
Enche-se-me o coração de amor, e esvazia-se-me o ar dos pulmões quando te vejo a caminhar firmemente em direcção á porta de entrada.
Observo-te aqueles minutos, em segredo. Um segredo só meu (bom, deixa de o ser agora, se ainda estás a ler).
Olho para ti, tu, com esse ar cheio de segurança, e amo-te ainda mais.
Finjo surpresa ao ver-te entrar na cozinha e recebo o teu abraço com ânsia. Não consigo imaginar sítio melhor para estar.
ADORO que me abraces.
Sinto-me mais tua quando estou nos teus braços.
No fundo, sei que não és meu, mas, EU SOU TUA. Única e exlusivamente tua."

O QUE NUNCA TE DISSE

" Sim, é verdade que isso me irrita. Sempre me irritou o facto de não ouvires nada do que te digo. Sempre odiei que me irritasses. Mas, tu parecias divertir-te imenso quando o fazias.
Devia ser como uma espécie de troféu para ti.
Para mim..., oh, esquece lá isso!
Eu sou a que guarda tudo cá dentro!"

Ora bolas, aquilo soava a irritação!
Provavelmente escrevera aquela parte num dia em que ele a irritara.
Sabia que ela não gostava, mas não sabia como era para ela, o que ela sentia quando ele a irritava de propósito.
Ela tinha razão. Ele irritava-a só porque lhe dava gozo.

"Bom, não desta vez!
Criei este caderno, exactamente para que fiques a saber o que eu NUNCA TE DISSE, seja bom ou mau.
E, espero que no fundo te ajude de alguma forma, e, para ser sincera, espero que me ajude também a mim."

Ajudá-la a ela?
De que maneira?
Oh, ela precisava de ajuda, e ele nem se dera conta.
Que belo namorado lhe tinha saído, pensou com desagrado.
Se eu...

O QUE NUNCA TE DISSE

Sentou-se no sofá, onde tantas vezes se sentara, onde qualquer posição que adoptasse o fazia sentir confortável. Algo que, era quase impossivel, agora, pensou.
Pousou o copo, generosamente abastecido com o seu whisky, na mesa de apoio e pegou outra vez no caderno.
Aquelas duas capas cor-de-rosa pareciam queimar-lhe os dedos.

"Não pretendo, com as minhas palavras tiranizar-te, meu querido, mas se reflectires um pouco, é verdade que não ouves.
E, se reflectires um pouco, dar-te-ás conta que como não ouves, acabas por falar demais. Acabas por falar demais até mesmo de coisas que não sabes."

Provavelmente ela tinha razão.
Nunca prestava muita atenção ao que ela dizia, o que acabava por levar a que lhe fizesse muitas vezes as mesmas questões.
Ele sabia que aquilo a irritava, mas nunca se preocupara com isso.
Ela amava-o.
Que mal é que poderia acontecer?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Revia mentalmente todas as vezes em que ela, ou alguém quisera que ele a ouvisse, e, ele, sem qualquer problema, não o fizera.
Escondeu a cara com as duas mãos.
Em que espécie de pessoa me tornei?
Levantou-se sem entusiasmo, erguendo nas mãos o caderno cor-de-rosa, que mais parecia ser de chumbo.
Arrastou-se até á sala, pousou o caderno em cima da pilha de jornais e revistas que se encontravam na pequena mesa de apoio, situada bem em frente do sofá castanho de pele gasta.
Queria continuar a ler, queria tanto saber que mais teria ela para lhe dizer.
Passou os olhos pela folha que acabara de ler. Sempre adorara a letra dela.
Era uma letra bonita, cuidada, firme e determinada, muito diferente da dele, que era desorganizada, pouco apelativa, dando a impressão que escrevia sempre á pressa, mesmo quando não o fazia.
Precisava da tal bebida.
Abriu o mini-bar que se acomodava, quase meio escondido no imponente armário de castanho da sala, e decidiu preparar um whisky.
Não era das suas bebidas preferidas, mas era forte. Talvez tão forte como aquele caderno cor-de-rosa aparentemente inofensivo.

O QUE NUNCA TE DISSE

Conhecia-o bem.
Talvez, há uns dias fosse exatamente o tipo de atitude que ele teria.

"Bom, se ainda estás a ler, vou responder á tua questão.
A verdade é que, eu não tenho muito o hábito de falar, sou mais o tipo de pessoa que guarda as coisas dentro de si, seja bom ou mau.
Eu sei, não é um bom hábito, porque acabo por me ir destruindo por dentro, por culpa deste isolamento auto-inflingido.
Por outo lado, percebi que não me vale muito a pena falar contigo, porque tu NÃO ME OUVES!!!
Imagino que isso seja um problema de ouvidos!
Acredita, eu tentei, mas as minhas tentativas foram em vão!
TU NÃO OUVES!!
Talvez seja melhor ires verificar o teu aparelho auditivo, ou, começares a tentar prestar um bocadinho da tua atenção ás pessoas, quando te querem dizer alguma coisa que estas achem ser importante."

Bolas, ela tinha razão outra vez!
Precisava de uma bebida, pensou para si.
E, era melhor que fosse forte, porque ainda que ela já ali não estivesse, e aquilo fosse apenas um caderno, a verdade era que se sentia desconfortável.
Sentia a cara vermelha de vergonha.

O QUE NUNCA TE DISSE

Meu Deus!
Estava sem fôlego!
Como? O quê...?
Ela....aquilo...
Nossa senhora!
Inspirou várias vezes até sentir que o ar lhe chegava aos pulmões.
Precisava de se acalmar, mas, ao mesmo tempo queria ficar ali, não se sentia com forças para se levantar.
Aquilo era...
Nem conseguia descrever o que estava a sentir.
Aquele caderno, aquele caderno era para ele.
Agarrou-o com mais força e com uma ansiedade descomedida, folheou-o até encontrar a capa do fim.
Estava todo escrito!
Meu Deus! Quantas coisas estariam ali, que ela não lhe dissera?!
Que NUNCA lhe dissera!?
E, porquê?
Porque não lhe dissera ela aquelas coisas? A si...em pessoa?!
Porque tivera necessidade de as escrever, em vez de lhe dizer pessoalmente?!
Virou a página.

" Eu sei, deves estar a perguntar-te "Porquê?"...ou talvez aches que foi uma ideia estapafúrdia e largues o caderno agora mesmo e vás beber uma cerveja."