quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Esta, era daquelas que exigia uma bebida forte.
Meu Deus!
Se até a ele lhe custara ler aquilo, ali, preto no branco, o seu pior lado, o seu pior erro, o que não lhe custaria a ela escrevê-lo!
E, o que lhe custaria saber que ele a traía.
Sim, sempre se protegera quando estivera com as outras, mas isso não fazia de si melhor pessoa.
Fazia dele uma pessoa horrível, depois de ler o que ela escrevera, até ele tivera nojo dele próprio.
Como fora capaz?
A troco de quê?!
Nem sequer tinham sido melhores que ela!
Para que arriscar tanto?!
Fora um idiota nojento!
Deitara fora a relação que tinha com ela, para quê?!
Para se sentir um machão?!
Para cultivar a sua fama de engatatão?!
Era um completo imbecil!
E, nem sequer se apercebera que ela sabia!
Ela sabia de tudo!!!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Há uma coisa que me incomoda bastante e sobre a qual penso também bastante.
Eu sei que tu me trais, mas, isso já não é novidade para mim, e, infelizmente, e apesar de saber, ainda não fiz nada.
Ainda não tive coragem, ou força, ou seja lá o que for, que continua a servir-me de justificação para continuar contigo, mesmo sabendo.
O que me ocupa o pensamento sempre que isso me vem á cabeça (e, acredita, é muitas vezes), é se quando estás com as outras....te proteges.
É que...cada vez que penso nisso, só a ideia de que estejas com elas sem proteção, dá-me vómitos.
Repugna-me.
Só a ideia...que estejas com outras, só por si já é indescritível!
Por mais que dê voltas á cabeça não consigo perceber o que te leva a fazer tal coisa.
Não consigo mesmo.
E, revolta-me que sejas tão cínico que mesmo estando com outras, queiras estar comigo.
Sim, preocupa-me que me "tragas" alguma doença da rua, mas preocupa-me mais a falta de respeito que tens para comigo.
Espero sinceramente, e rezo por isso, que quando vais "comer fora" uses proteção.
E, gostava que pelo menos uma vez na vida pensasses em mim, e te perguntasses no teu íntimo se achas que tens um comportamento digno para comigo.
Gostava que pensasses que um dia eu posso vir a fartar-me deste teu comportamento errático, das mentiras, dos enganos, das traições.
Não sabes o que é saber que chegas a casa depois de teres estado com outras mulheres!
Há mesmo dias em que sinto um nojo desgraçado, até da minha própria imaginação!
Não vou aguentar muito mais tempo.
As tuas traições dão cabo de mim.
Não suporto que me toques.
Não fazes ideia do que é!
E, espero que nunca faças!"

O QUE NUNCA TE DISSE

Para ele, fosse qual fosse o problema, sempre lhe parecia mais pequeno depois de uma boa noite de sono.
Descansar era importante para desligar um pouco os pensamentos.
Nunca se pusera no lugar dela, nunca tentara perceber certas coisas...nunca se incomodara com o que se passava com ela.
Os pensamentos deram mais uma volta na sua cabeça, e, por fim acabou por adormecer.
Acordou com o toque do despertador.
Não tinha vontade de se levantar, mas, uma vez que estava numa de perder, não se podia dar ao luxo de perder também o emprego.
Olhou para o caderno cor-de-rosa, pousado agora em cima da mesa da cozinha, quando se preparava para sair para o trabalho, e disse para consigo "vais ter que ficar aqui, com muita pena minha".
Nessa tarde, quando chegou a casa, sentou-se ansioso na mesa da cozinha e pegou no caderno com carinho, como se fosse um objecto querido que já não via há muito tempo.
Ficou ali a agarrar no caderno por uns instantes, até que respirou fundo e o abriu.
Perguntava-se o que faria quando acabasse de o ler, uma vez que o fim lhe parecia estar próximo.
A que se agarraria?
O que faria?

O QUE NUNCA TE DISSE

Era estranho, mas era a verdade.
Fechou os olhos e tentou adormecer.
Já sabia que ia ser difícil adormecer, mas a última coisa que queria era aparecer no trabalho com olheiras, até porque os seus colegas mais maldosos iriam logo mandar bocas foleiras.
Nunca tivera grandes problemas em adormecer, ao contrário dela que sofria de insonias, ele adormecia sempre sem dificuldade.
Mas, com o aparecimento do caderno cor-de-rosa, e com a ida dela, adormecer tornava-se cada vez mais difícil.
Pensou nela e nas suas insonias.
Será que ela não conseguia adormecer por ter muito em que pensar?
Será que era naqueles momentos que agarrava no caderno cor-de-rosa e lhe confidenciava o que sentia e como se sentia?
Pensou, como teria sido difícil para ela não se conseguir "desligar", nem para dormir.
Ela acabava por não descansar, e de certeza que os assuntos lhe davam voltas sem parar á cabeça.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Também acho que devias ser mais honesto e sincero contigo mesmo, para começar, e também com os outros.
Pensa nisso."

Era de facto algo em que também teria que pensar, aliás, eram muitas as coisas em que teria que pensar.
Tinha que pensar, analisar a sua vida e mudar o que estava errado, e havia de facto muita coisa errada. Algumas poderiam ainda ser corrigidas, outras, infelizmente não.
Agora, estava na hora de ir descansar, pois o trabalho esperava por ele no dia seguinte.
Ou, pelo menos ia tentar descansar, porque ultimamente isso tinha sido quase impossível.
O caderno cor-de-rosa, dava voltas e voltas na sua cabeça, e, mesmo assim, mesmo com tudo o que lera, com tudo o que bailava ali naquele caderno sobre ele e que o atingia de uma forma brutal, não se conseguia separar dele.
E, hoje, não fora excepção. Aninhara o caderno cor-de-rosa do lado oposto da cama, o lado que antes estivera reservado para ela.
O caderno, de certa forma representava-a.
E, atormentava-o a ele, mas por incrível que parecesse, sentia-se reconfortado por ter ali o caderno aninhado ao lado dele.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Uma vez que ambos sabemos perfeitamente que dizes umas coisas e depois acabas é por fazer outras bem diferentes, gostava de te chamar á atenção (novamente) para isso.
Acho que devias acabar com essa mania.
Para teu bem e para bem dos outros também.
Pensa nisso!"

Ao fim e ao cabo, eram muitas as manias com que ele tinha que acabar.
Isto de se ver a si próprio "do lado de fora" tem muito que se lhe diga, pensou.
Afinal, o seu "eu" já não lhe agradava assim tanto, nem ele era tão bom quanto pensava.

O QUE NUNCA TE DISSE

Deixara os objectos para trás, grande parte deles, coisas que ele lhe oferecera.
Ela queria mesmo começar uma vida nova, longe dele e do passado que tivera com ele.
Aquilo atingira-o mais do que queria admitir.
Ela queria mesmo esquecê-lo, e deixar ali aqueles objectos, era uma mensagem clara.
Uma mensagem para ele.
Deixara-lhe claro que ele ficava no passado.
Para ser sincero, também não esperava outra coisa.
Com o que ele errara, era obrigado a dar-lhe razão.
Secretamente tinha esperança que tivesse sido só um acto para lhe mostrar o quão zangada estava com ele, e ele merecia, provavelmente até merecia bem mais.
E, agora que sabia tanta coisa, que antes nem sequer imaginava, coisas ás que não dera importância, não se podia dar por vencido, teria que arranjar maneira de voltar a falar com ela, nem que fosse a última vez, mas tinha que o fazer. Ainda não sabia como, mas ia pensar numa maneira, oh, se ia!

O QUE NUNCA TE DISSE

Gostava de a encontrar, ainda que provavelmente não fosse acontecer, mas gostava.
Apesar de achar que mal ela o visse fugiria a sete pés.
Percebia agora que tinha sido difícil e doloroso para ela "desligar-se" dele, mesmo apesar de tudo que ele fizera, mesmo depois das desilusões, dos enganos e das mentiras. E, dava-se conta que ela se fora embora por já não ter mais alternativas, porque no fundo, achava e queria crer que ela quisera ficar, quisera muito ficar com ele.
E, a muito custo tivera que ultrapassar o que queria, porque percebera que era algo que lhe fazia mal.
E, acabou por se "desligar" total e completamente dele.
De tal forma, que , deixara para trás alguns dos presentes que ele lhe dera.
Até punha a hipótese de os ter deixado todos, mas até agora tinha apenas encontrado alguns.
Há mais ou menos três dias, enquanto tentava por alguma ordem no quarto, visto que aquilo estava com a aparência de ter passado por ali um furacão, encontrara, por acaso, o colar que ele lhe tinha oferecido no dia dos namorados, debaixo da cômoda.
Como estava ali meio escondido, não percebera muito bem se tinha ficado por ali esquecido intencionalmente ou não.
A confirmação chegou no dia a seguir, quando encontrara outros objectos dela pela casa.
Não se tinha esquecido deles.
Devia ter percebido logo que ela não se esquecia de nada ao acaso, era extremamente organizada para isso.

O QUE NUNCA TE DISSE

Claro que ela não faria uma coisa dessas!
Nunca lhe exigira nada!
E ele, ,muito provavelmente, não lhe teria dado ouvidos.
Ainda não sabia o que era estar sem ela, nem o que isso o fazia sofrer.
Na verdade, estava tão cego que nunca na mais remota das suas divagações lhe passou pela cabeça que ela o poderia deixar.
Nunca pensara que a relação deles poderia ter um fim.
E, sempre achou que se a relação acabasse um dia, seria com certeza ele a por um ponto final.
Enganara-se.
Enganara-se tanto e sobre tanta coisa.
Começava a sentir uma certa ansiedade por ter que regressar ao trabalho no dia seguinte.
Ainda não tinha terminado de ler o caderno cor-de-rosa, mas, já faltava pouco.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Como és capaz de perceber, eu não podia pedir-te que mudasses de comportamento.
Primeiro porque acho que não tinha o direito de te exigir, ou pedir uma coisa dessas.
Aliás, nunca tive, nem nunca procurei exercer direitos nenhuns sobre ti.
E, depois porque eu não era ninguém, apesar de sofrer com algumas das coisas que tu fazias, eu não era ninguém para te dizer que devias mudar o teu comportamento, por muito que o teu comportamento me afectasse.
Isso, ou melhor, a decisão de mudares de comportamento tinha que partir única e exclusivamente de ti.
Tu é que devias ter percebido o que estavas a fazer de errado, e, se achasses conveniente, mudares de atitudes e de comportamento.
A única coisa que eu poderia ter feito era dizer-te que esse teu comportamento me desagradava."

Então, porque não disseste?!
Até imaginava a resposta áquela pergunta!!!
Ele não ouvia!
Mas, pelo menos, ela devia ter tentado.
Devia tê-lo obrigado a ouvi-la e sim, devia ter-lhe feito um ultimato!
Ela que exigisse uma mudança do seu comportamento, ou então que esquecesse a relação deles!
Era o que devia ter feito!!!

O QUE NUNCA TE DISSE

Ao ver ali enumerados bastantes dos seus defeitos, até ele ficava admirado com a capacidade de resistência dela.
Se alguém lutara pela relação de ambos, fora ela. Lutara em várias frentes, estava convencido que ela lutara até, sem saber bem contra o quê.
Apesar de lhe reconhecer todos os seus defeitos, ela era a primeira a defendê-lo, mesmo nas situações em que ele não tinha defesa possível.
Ela estivera ao lado dele em situações, que , se estivessem em posições inversas, ele não sabia se ficaria ao lado dela.
Era normal que ela se saturasse dele, do comportamento dele, de estar sempre sozinha a lutar pela relação de ambos, porque, e apesar de tudo, ela sempre quisera que ambos resultassem.
Ela queria ficar com ele, e, ele fizera de tudo para a mandar embora.
Fizera-a infeliz, provavelmente a maior parte do tempo, e ele, apesar de passar outra imagem para os seus amigos "machões", também não fora assim tão feliz com a sua vida desregrada e as suas atitudes irresponsáveis.
E, agora, olhando para trás, percebia que podia ter sido feliz, aliás, muito feliz e podia tê-la feito a ela muito feliz também.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ah, ás vezes usas-os também em sms.
Quando não digo o que esperas, ou não concordo com tudo que tu queres, lá vens tu e sacas de um "ok!", como quem diz "faz como entenderes, mas a minha opinião é esta".
E, tu é que sabes, tu é que tens razão e ai de quem tenha ideias que divergem das tuas!"

Claro!
Para si, as suas opiniões prevaleciam acima das de quem quer que fosse!
São as suas opiniões!
E, também, era o que faltava! Mudar as suas opiniões para agradar aos outros, ou para que ela se irritasse menos um bocadinho!
E, foram exactamente reacções e pensamentos destes, que a afastaram de ti, burro! Pensou para si próprio.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Irrita-me solenemente que acabes uma discussão com um "ok" ou então o célebre "tá".
Aliás, não os usas só em discussões!
Vais buscá-las também quando amuas!
Apesar de achar uma certa graça quando te vejo amuado, a verdade é que acho deveras infantil que amues e faças as birras que ás vezes fazes.
Não é assim que se conseguem as coisas.
A meu ver, vá!"

Pois enganava-se, era assim mesmo que se podiam conseguir muitas coisas.
Tantas, que ela nem sequer fazia ideia!
O "ok" ou o "tá" significava apenas que não tinha mais nada para dizer, apesar de manter a sua opinião, e , ela que fizesse o que quisesse a respeito de.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Desculpa lá mas também vou ter que dizer isto!
És imaturo e, apesar de grande parte das vezes dizeres que és muito paciente, a verdade é que és bastante impaciente.
As coisas têm que ser feitas á tua maneira, única e exclusivamente á tua maneira, como tu queres e quando tu queres!
Uma pessoa que não aceita "nãos", não pode ser uma pessoa com muita paciência, pelo menos no meu entender!"

Imaturo e impaciente?
Ele logo vira que aquilo não era bom, palavras a começar por "im"" não costumam ser boa coisa!
Ele até podia ser imaturo, mas também não se podia dizer que ela tinha toda a maturidade do mundo!!
E, discordava veemente com o impaciente!
Não aceitar "nãos" requeria toda a paciência do mundo!
Se não tivesse paciência, como é que conseguia convencer as pessoas a mudar de opinião?
Ou, a mudar de ideias?
Ele era paciente!
Muito paciente até!

O QUE NUNCA TE DISSE

E lá que ela tinha tido paciência, lá isso tinha!
Conheceu várias mulheres, que lhe disseram na cara que com elas, ele não durava muito, ou mudava, ou então estava feito, porque elas punham-o a mexer e ele que se fizesse á vida.
Ela, nunca lhe dissera nada.
Não reclamava.
Não fazia exigências.
E, nas poucas vezes em que ela precisou de falar com ele, ele não a ouvira.
Viveram juntos tanto tempo, mas no fundo, andaram grande parte do tempo desencontrados.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Oh, era verdade que ás vezes não cumpria com certas coisas, mas também que culpa tinha ele que a sua memória não fosse das melhores?!
Não era por mal, ás vezes esquecia-se das coisas.
É normal, é algo que pode acontecer a qualquer um.
Afinal de contas, nem toda a gente pode ter uma super memória!
Ok.Ok. Ás vezes também se fazia um bocadinho esquecido, pronto, admitia!
E, também, era verdade que ás vezes prometia coisas que sabia que não ia cumprir.
Mas, também, ás vezes nem era por sua culpa, se alguém insistia muito com ele, ele até acabava por prometer sabendo que só o estava a fazer para calar essa pessoa.
Pronto, não era algo bonito, mas também há pessoas que conseguem encher a paciência de uma pessoa cá de uma maneira!
Talvez, no fundo, ele acabasse por ser para ela, uma dessas pessoas insistentes e chatas que passam a vida a dar-nos cabo da paciência.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Detesto que não cumpras, quando te comprometes a fazer alguma coisa.
É uma mania muito ruim e além disso reveladora de uma grande falta de respeito para com a pessoa a quem estás a prometer algo.
Não te deves comprometer a fazer algo, se não sabes se o podes cumprir.
Devias saber que não se devem fazer promessas que não sabemos se podemos cumprir!
E, quando á partida já não tencionamos cumprir, então é que não devemos prometer mesmo!!!
Quando te comprometes a fazer algo, estás a dar a tua palavra, e ao não cumprires, estás a mostrar que afinal a tua palavra não vale nada.
Mostras que não se pode confiar em ti!
E, isso, eu já sei, porque já te conheço, mas para quem não te conhece como eu, e te admira, é algo um bocadinho difícil de digerir.
A próxima vez que fizeres uma promessa a alguém, pensa nisso e lembra-te que se estás a prometer, o melhor mesmo, é cumprires."


O QUE NUNCA TE DISSE

E, é muito fácil darmos-nos bem com uma pessoa que se está sempre a rir e que é bem-disposta e brincalhona, mas, aguentar o que sobra e está para além disso, talvez não seja assim tão fácil.
Não tinha sido assim tão fácil para ela
E, não estava a ser fácil para ele, agora.
Não pensara.
Não pensara em nada.
Não se importara com as consequências do que andara a fazer.
Nunca precisara de se importar, porque nunca sentira que tinha que se importar com quem quer que fosse, para além dele próprio.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Ele era aquele tipo simpático, prestável e disponível que toda a gente gosta, que no fundo consegue cair nas boas graças de toda a gente.
Claro que, ela não era toda a gente, e, vivia com ele, por isso conhecia bem as suas manias, o seu carácter e aguentava-o. Enquanto que a maior parte das pessoas que o conhecia, conhecia apenas uma das suas facetas, ou seja, o lado bem-disposto, educado e brincalhão.
E,claro, se pensarmos um bocadinho, é quase impossível não gostar de alguém assim.
Mas, como todos sabemos, não há pessoas totalmente boazinhas, nem pessoas totalmente más. As pessoas podem ter um fundo bom ou mau, mas acabam por reagir em função das situações que se lhe apresentam.
Ele, acabava por passar uma imagem tão boa e positiva cá para fora, que consequentemente o que era mau e lhe corria mal ficava em casa, e isso, era ela quem aguentava.

O QUE NUNCA TE DISSE

E aí já não vais poder fazer nada, acrescentou ele mentalmente.
As lutas interiores que ela teria tido com ela própria!
O que lhe teriam custado as desilusões a que ele a submetera!
Descobrira o que ele temia, descobrira que ele não servia para ela.
E, apesar de tudo, continuava a querê-lo!
Se ele ao menos tivesse sabido!
Se tivesse deixado de ser tão egocêntrico por um momento que fosse, e tivesse percebido o quão o comportamento dele a atingia, o quão saturada ela estava a ficar.
Se se tivesse sequer apercebido de que a estava a perder.
Perdera-a aos bocadinhos e nem sequer se apercebera!
Ou não quisera perceber!
Do alto do seu egocentrismo nunca sequer pusera a hipótese de alguém se cansar dele, ou da sua presença.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, acho que, inevitavelmente, chega um dia em que deixamos de querer.
Depois de muito aguentarmos, depois de muito nos desiludirmos, chega um dia em que não conseguimos aguentar mais.
Chega-se a um ponto em que não há volta a dar, e aí, e por muito que quiséssemos que as coisas fossem diferentes, temos que repensar toda a nossa vida.
Temos que pensar no que queremos, no que temos e no que gostaríamos de ter, no que estamos a desperdiçar.
E, eu, quis-te muito, quis-te como nunca quis ninguém, e, apesar de tudo, ainda quero.
Mas, começo a ficar saturada.
Saturada das mentiras, dos enganos, das desilusões, de descobrir a cada dia que estás longe de ser o que eu pensava, e, inevitavelmente, sei que um dia, vou deixar de te querer."

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, comecei a aperceber-me que lidas muito mal com a rejeição, aliás, o que eu acho é que não sabes aceitar uma rejeição.
Não consigo perceber porque, mas não és capaz de aceitar um não.
Talvez estejas pouco acostumado a receber um não, e por isso talvez seja uma palavra que não faça parte do teu dicionário pessoal.
Na minha opinião, acho que a devias incluir.
É a minha opinião, vale o que vale! ( o mais provável é que não valha grande coisa.)
A sério, acho que essa mania, ainda é capaz de te trazer dissabores, um dia."

De certa forma era verdade que não lidava muito bem com uma rejeição, e também tinha que concordar que era raro ser rejeitado, e, talvez estivesse aí a explicação.
Pessoalmente, não era muito amigo do "não".
Era uma pessoa persistente e persuasiva, portanto era quase sempre capaz de transformar o "não" em "sim".
Talvez ela tivesse alguma razão, porque pessoas persistentes como ele, eram muitas vezes apelidadas de "chatos"  e era exatamente pelo cansaço infligido nos outros, que os venciam.
De fato, era capaz de haver um par de coisas na sua vida que tivesse que repensar.
Ou, se calhar, muitas coisas mesmo.

O QUE NUNCA TE DISSE

Estivera tão cego!
Acabara por perder a pessoa mais importante que alguma vez tivera!
Única e exclusivamente por sua culpa!!
Como era possível que tenha conseguido fazer tudo exatamente ao contrário?
Lamentava tanto não ter-lhe dito também ele, algumas coisas.
Devia ter-lhe dito o que sentia, devia ter sido verdadeiro com ela.
Ele sabia que ela dava um extremo valor á sinceridade, devia ter respeitado isso e devia ter sido sincero com ela acima de tudo.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Houve tantas vezes que me disseste "Amo-te" e eu tive vontade de te dizer "Não, não amas. Não sabes o que isso é."

Pronto, tinha que concordar que aquela fora merecida.
Talvez soubesse amar, ainda que á sua maneira, mas arranjara sempre maneira de lhe demostrar o contrário.
Tinha finalmente percebido que tipo de estragos tinham feito as suas atitudes.
Magoara-a, magoara-a muito.
Fizera-a ver o seu pior lado, o que só fizera com que ela se desiludisse e desapontasse com o que ia descobrindo.
Fizera-a pensar que não a amara.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

A verdade era que nunca ligara muito á sua consciência, não lhe dava grande uso, para ser sincero.
Sempre fizera praticamente tudo o que lhe apetecera, sem ligar ou pensar nas consequências dos seus atos.
Não era do tipo de pensar e repensar nas coisas.
O que estava feito, estava feito, e por isso não valia a pena estar a remoer nos assuntos até á exaustão.
Essa sempre fora a sua máxima, porque estava acostumado a pensar única e exclusivamente nele, no que ele queria e no que lhe apetecia fazer.
O caderno viera-lhe mostrar que fora egocêntrico demais para perceber o tipo de pessoa que ela era e para lhe dar valor.

O QUE NUNCA TE DISSE

O caderno queimava-o nas mãos, mas, e não sabia como, queimava-o por dentro, envergonhava-o e abria-lhe os olhos para tanta coisa que ele não vira, ou se vira, não tinha ligado.
Ela tinha escrito que ler o caderno cor-de-rosa talvez o ajudasse, e de fato começava a concordar com aquelas palavras, a que na altura não dera grande importância.
O caderno representava para ele a ausência dela, devido a todas as suas borradas, e, era por isso que lhe pesava toneladas cada vez que o carregava de um lado para o outro.
Parecia pesar tanto como a sua consciência.

O QUE NUNCA TE DISSE

Não havia nada que ele mais quisesse no mundo, senão, tê-la ali com ele, de novo.
Tinha sido completamente burro!
Agora que pensava a sério no assunto, e com consciência (pesada, claro) dava-se conta de tudo que tinha desperdiçado.
Ela não era perfeita, aliás, ninguém o é, mas fazia-o feliz, e amava-o, amava-o mesmo, disso ele não tinha a menor dúvida.
Fora demasiado burro, demasiado cego, para perceber o que estava a deitar fora.
Deitara fora uma oportunidade de ser feliz ao lado da única pessoa que o amara verdadeiramente, a única pessoa que o amara sem interesses, sem contrapartidas e sem lhe pedir nada em troca.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Quis delegar-lhe parte da culpa, quis culpá-la de tudo, mas, sabia e no seu íntimo tinha consciência que não o podia fazer.
Ela aguentara tanta coisa, nem ele sabia como ela resistira a tanto e tanto tempo, e admirava-a por isso.
No fundo ele sabia perfeitamente que o seu feitio não era propriamente fácil, conhecia-se e sabia como era.
Bolas!
Quem estava a dar em maluco nesta história era ele!
A única coisa que lhe apetecia e que estava sempre a vir-lhe á cabeça, era ir buscá-la, estivesse lá onde estivesse, agarrar nela, e, fazer amor na cama deles, uma e outra vez.
Meu Deus!
Que saudades que ele tinha dela!
O cheiro dela! Que lhe entrava todas as manhãs pelas narinas dentro!
Como sentia a falta dela!
Do corpo dela, aninhado ao seu, todas as manhãs!
O seu calor, o seu abraço, o seu sorriso!

O QUE NUNCA TE DISSE

Além disso, ela tinha escondido tanto, ou talvez até mais, que ele!
Podia até ser uma pessoa verdadeira e correta, mas no fundo, não era ninguém para lhe dar lições de moral!!
Respirou fundo e foi buscar a sua garrafa favorita nestes últimos dias, a garrafa de Whisky velho.
Verteu o líquido no copo e bebeu-o de uma só vez.
Ardeu-lhe a garganta á passagem do líquido por ela abaixo. Foi como pôr álcool puro numa ferida aberta.
E, na verdade, tinha muitas feridas abertas.
Apesar de não o querer reconhecer.
Apesar de querer jogar parte da culpa que sentia, nela.
Queria que ela estivesse ali, queria continuar a dividir tudo com ela, o bom e o mau.
E, pela primeira vez, doía-lhe, doía-lhe a sério que ela não tivesse ficado.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Vou ter que me repetir, mas paciência!
A sério, pensa bem, aliás, pensa MUITO BEM para a próxima vez que te ocorrer mentir!
Não mintas!
Por pior que seja a situação, é sempre melhor dizeres a verdade, ou, pelo menos na minha opinião é."

Lá estava ela outra vez a bater no ceguinho!
Essa parte já ele tinha percebido!
Mas, se a desagradava e incomodava tanto, que lho tivesse dito enquanto estavam juntos! Talvez assim, se tivesse sabido que havia tanta coisa a incomodá-la, pudesse ter modificado ou tentado modificar o seu comportamento.
Talvez juntos tivessem conseguido resolver os problemas que tinham.
Tudo bem, ele não era um santo, mas se a relação não tinha resultado, a culpa não era só dele! Que ele soubesse, eram precisos dois para dançar o tango!

O QUE NUNCA TE DISSE

Ler o caderno era como ir ao encontro dela todos os dias.
Era como se...estivesse com ela todos os dias.
Continuava a sentir a presença dela, ali, a cada página que lia.
Havia muitas coisas que ele desconhecia, outras tantas que lhe tinham passado ao lado, mas e apesar de tudo queria acreditar que tinha captado a essência maravilhosa dela e relembrava todos os dias o bem que ela fizera á sua vida.
Lamentava que ele lhe tivesse feito mal e nem se tenha apercebido do que estava a fazer.

O QUE NUNCA TE DISSE

Começava a perceber que por vezes se dá um valor desnecessário a certas coisas, que na verdade pouco valem.
Começava a perceber que talvez até agora, andasse com as suas prioridades todas trocadas, os seus valores um bocado confundidos e as suas verdades absolutas, não passavam de verdades relativas, que de verdade pouco tinham.
Bom, por outro lado, voltar ao trabalho, era capaz de lhe fazer bem.
Aqueles dias todos praticamente encerrado em casa, já começavam a mexer-lhe com o sistema nervoso.
Acontecia agora com ele, o que já acontecera com ela, de tanto pensar no assunto, ficava ali a matutar e a remoer naquilo vezes sem conta, e aquilo não lhe fazia bem nenhum.
Na verdade, acabava por ter sentimentos ambíguos em relação ao regresso ao trabalho.
Por um lado achava que lhe faria bem sair de casa, continuar a sua vida ou o que restava dela, sem ela, mas por outro lado, regressar ao trabalho, significava separar-se do caderno cor-de-rosa, e uma vez que ainda não tinha terminado de o ler, a ideia de regressar ao trabalho já não lhe parecia tão atrativa.

O QUE NUNCA TE DISSE

Sim, era verdade que ele era um pouco comodista, mas, se ela tratava de tudo tão bem, e sem a sua ajuda...para que ia ele meter-se onde não era chamado?!
Agora que refletia no assunto, se fosse precisamente hoje, pensou, ter-lhe-ia dito que sim.
Nada lhe daria mais prazer do que ter ficado ali, do que ter passado as férias ali em casa na companhia dela.
Até mesmo agora, pensou, dava tudo para que ela estivesse aqui.
Mas não estava!
Claro que não estava, única e exclusivamente por sua culpa.
Devia ser o homem mais burro á face da terra!
Como é que tinha trocado o que tinha em casa, por noites e noites, e até alguns dias de farras, que agora serviam apenas para lhe deixarem a consciência pesada.
E, as férias no fim, e ele nem se apercebeu do tempo a passar.
O caderno cor-de-rosa e as suas revelações, absorviam-o completamente.
Nunca antes sentira uma dependência tão grande em relação a nada.
A verdade era que era uma pessoa bastante independente, e prezava muito a sua liberdade.
Curiosamente, percebia agora que a sua suposta mania da independência e da liberdade, de momento, de nada lhe serviam!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

Afinal, as suas férias tinham acabado mais rápido do que ele previra.
Praticamente não tinha saído de casa, ao contrário do que tinha acontecido sempre que tivera férias antes.
Antes de ela se ir embora.
Antes do caderno cor-de-rosa.
Antes disso, teria sido impensável para ele passar umas férias inteiras metido dentro de casa.
Não! Férias para ele era ir para um sítio com muito calor e boa paisagem (no sentido literal e figurado), onde pudesse estar de papo ao ar e sem fazer nenhum.
Nem mesmo quando ela lhe pedira insistentemente, no verão anterior, para não viajarem, porque andava demasiado cansada e não tinha vontade de ir a lado nenhum, ele acedera.
Nem pensar! Tinha ele dito. E, gastou todos os argumentos que tinha e que inventara, para a conseguir convencer. Tinha-lhe dito que viajar ia fazer-lhe bem, ia relaxar e não ia precisar de se preocupar com nada, o que na verdade era uma grande mentira, porque quem tinha que organizar tudo e fazer as malas era ela.

O QUE NUNCA TE DISSE

A sentir-se estranha?
A perder o controlo e o auto-domínio?!
Bolas, onde andara ele que não percebera nenhuma mudança que lhe parecesse relevante, no comportamento dela?!
Aliás, não se apercebeu de mudança nenhuma!
Como era possível que ele andasse tão perturbada e ele não se apercebesse de absolutamente nada?!
Ela e aquela mania dela de não lhe dizer as coisas!
Bom, o mesmo podia ela dizer dele e da sua mania de não ouvir as coisas!
Ela tinha razão, tinham falhado total e completamente no diálogo!
Talvez tivessem conseguido resolver certas coisas, se tivessem conversado sobre elas, sobre eles, sobre o que se passava, sobre o que queriam e o que esperavam um do outro.
Não fora nenhum santo, mas teria sido capaz de modificar o seu comportamento, no fundo do seu ser queria acreditar que seria capaz de mudar por ela.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"E, claro, como deves imaginar, a par de ter deixado de confiar plena e cegamente em ti, deixei de acreditar no que me dizias.
A verdade é que fiquei sem saber em que podia eu acreditar afinal.
Não fazes ideia sequer do quão penoso pode chegar a ser!
Dava voltas e voltas á cabeça a pensar se estarias a dizer a verdade ou a mentir descaradamente na minha cara.
Não sabia no que podia acreditar.
Estudava a tua cara, as tuas expressões, á espera que me pudessem ajudar a perceber se mentias ou não.
Comecei a sentir-me meia estranha nesta história toda, porque afinal de contas tu é que eras o mentiroso e eu é que me sentia mal e constrangida, e talvez até um pouco obsessiva.
Sentia-me a perder o controlo sobre mim própria e sobre o meu auto-domínio.
Sabia que tinha que tomar uma atitude, e embora não fosse a que mais me agradasse, teria que levá-la a cabo algum dia.
Algum dia...porque ainda não estava preparada para que fosse já."

O QUE NUNCA TE DISSE

É que conseguia apanhá-lo sempre!!
Queria ter uma namorada, não!
Queria tê-la a ela como namorada!
Embora ela já não tivesse fé nos seus sentimentos por ela, ele tinha-os e continuavam lá.
Graças a Deus que ela não sabia o que ele fazia com as outras com quem saía!
Ou, na verdade até soubesse, ou talvez até tivesse descoberto depois de escrever aquela passagem no caderno cor-de-rosa.
Ok, havia certas coisas que ele fizera, das quais não se orgulhava, e, que muito provavelmente tinham contribuído para o afastamento emocional e físico dela, e lamentava-o.
Lamentava mais do que alguma vez imaginara lamentar.
Mas, o que estava feito, estava feito e já não podia ser alterado.
Se ele soubesse....
Se ele tivesse sequer imaginado as coisas que ela sabia...talvez...talvez as coisas pudessem ter sido diferentes.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Eu sei, provavelmente estás a desvalorizar e a pensar que é um perfeito disparate, mas talvez até não seja.
Primeiro porque ao longo do tempo vens a demonstrar que afinal a magnitude dos sentimentos que dizias sentir, fica muito aquém, isto, se é que alguma vez sentiste o que quer que fosse por mim.
Depois, não consigo perceber porque carga de água fazias tanta questão de ter uma namorada, quando continuas a sair com outras raparigas e a fazer sabe-se lá o que com elas!
Se pensares um bocadinho por este ponto de vista, se calhar já não parece ser tão disparatada a ideia!"

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, ás vezes, fico com a sensação que eu não era de fato aquela que tu querias.
Acho que no fundo o que tu querias realmente, e sinceramente não consigo perceber porquê, era teres uma namorada.
Acho que o que te agradava mesmo era a ideia de teres uma namorada e não que a tua namorada fosse eu especificamente.
Querias alguém, alguém que fosse a tua namorada."

Como é que ela podia pensar semelhante disparate?!
Aquela questão nem era sequer discutível!!
É claro que a quisera para sua namorada!
A ela e não a outra qualquer que preenchesse o requisito...e ele era bastante requisitado!
Ela tinha cada ideia!
Porque não tinha ela partilhado aquele disparate com ele?
Se calhar porque ele ter-lhe-ia dito que era um disparate.

O QUE NUNCA TE DISSE

Quase se chocara com o que lia.
Aquilo nem parecia dela.
Seriam aquelas as mudanças nela, que ele nem sequer reparara?!
De fato, talvez ele fosse muito ele e mais ele próprio.
Sentia ali uma certa revolta nas palavras dela, e não sabia bem se era uma revolta contra ele ou contra ela própria.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, acho que com o acumular de pequenas coisas, o meu afastamento em relação a ti e ao que sinto, é cada vez maior.
É com pena, porque quis tanto que déssemos certo, que constato que me começo a fechar novamente dentro de mim própria, e tu, nem sequer dás por nada.
Quando reparares, provavelmente será já tarde e não poderás recuperar-me, porque estarei já escudada pela minha armadura, que lamentavelmente larguei e abandonei esquecida a um canto, quando decidi confiar plenamente em ti, quando decidi que o que eu sentia por ti era forte demais para o conseguir ignorar, e , quando percebi que a minha "armadura" nada podia contra a magnitude dos meus sentimentos.
Quando decidi abandonar todos ou praticamente todos os meus mecanismos de proteção, sabia que ficaria vulnerável, ficava á tua mercê, mas não me importei, porque confiei.
Confiei no amor.
Confiei em ti.
Agora, depois de muito refletir, chorar e sofrer, percebo que errei.
Não devia ter confiado numa pessoa que afinal não era de confiança.
Não devia, mas confiei.
Foi como...depois de muito fugir dos cordeiros, me fosse enfiar diretamente na boca do lobo."

O QUE NUNCA TE DISSE

Estava deveras transtornada, pensou.
Se as passagens dela no caderno cor-de-rosa estivessem datadas, ele conseguia fazer um paralelismo com certos acontecimentos ao longo da relação deles, mas assim, era quase impossível.
Isso deixava-o um pouco perdido, e não lhe agradava nada aquela sensação.
O fato de não saber ao certo o que se passara ou a que coisas se referia ela afinal, irritava-o.
Sem querer dar extrema importância ao assunto, mas a fervilhar por dentro, tentava ligar pequenas peças que iam surgindo na sua cabeça.
Se estivesse datado, era muito mais fácil perceber certas coisas, pensou um tanto ou quanto frustrado.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"E tu, talvez não saibas, nem percebas do que estou eu para aqui a falar, mas quando se perde toda a confiança na pessoa que mais amamos, doí.
Doí e passa-nos todo o tipo de coisas pela cabeça.
Duvidei de todos os momentos que passamos juntos e da veracidade dos mesmos.
Duvidei de todos os sentimentos que dizias sentir.
Duvidei de tudo que me disseste.
No fundo ia dando em maluca, porque acabei por duvidar de tudo e mais alguma coisa.
A minha cabeça trabalhava noite e dia, a bater na mesma tecla, a pensar e repensar no mesmo assunto, vezes e vezes sem conta.
Não sabes o que é querer desligar o cérebro do assunto e não ser capaz!!
Não sabes o que é passar e repassar todos os momentos que vivemos, tudo o que disseste, e pensar, querer acreditar que não podia ser tudo mentira, e no fundo, ter a certeza que afinal nem tudo era verdade.
Pensei muitas vezes que devias ser um ótimo ator e ninguém dera por isso.
Pensei muitas vezes com desdém, que deverias receber um óscar, por seres bom ator, ou então por seres um ótimo mentiroso!
Revolve-se-me o estômago, quando me vêm certas coisas ao pensamento!
Espero, sinceramente que nunca tenhas que lidar com o reverso da medalha!"

O QUE NUNCA TE DISSE

No seu intimo perguntava-se em que momento teria ela perdido a confiança nele, e, se fora nesse momento que perdera a fé no relacionamento deles.
Não a podia censurar por querer alguém melhor que ele.
Alguém que a fizesse feliz, apesar de a ideia de ela estar com outro lhe desse a volta ao estômago.
No fundo, sabia que fora ele o grande responsável naquela trapalhada toda.
Sim, porque ás tantas, já não era mais que uma grande trapalhada!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Inevitavelmente, com todas estas pequenas (grandes) descobertas, aconteceu uma coisa terrível!
Quer dizer, para ser completamente sincera contigo, aconteceram várias coisas horríveis.
Sim, para pessoas que amam, aliás, que amam de verdade, tudo o que vá contra a seu amor é algo horrível.
És capaz de não perceber bem do que estou a falar, mas paciência.
Talvez, um dia consigas perceber certas coisas.
Bom, a primeira coisa horrível que aconteceu foi ter percebido que nem tudo era como eu pensava que era, ou como eu via.
Aí, quebrou-se uma coisa muito importante, que é essencial numa relação, a confiança.
Sim, deixei de confiar em ti.
Mostraste-me e deste-me provas suficientes para eu deixar de confiar em ti.

Mas que provas?!
Ainda se estaria a referir ao maldito Facebook?!
Ou...teria ela já descoberto outro tipo de coisas...de provas...?
Era de mais fácil compreensão, se ela não falasse por códigos!!!

O QUE NUNCA TE DISSE

De certeza que há no mundo milhares de pessoas que já fizeram o mesmo!
Afinal de contas, ele não era nem pior, nem melhor que ninguém!
Tinha as suas táticas para ludibriar, encantar e cativar uma mulher.
Sabia conquistar, que mal é que isso tem?!
É claro que ás vezes, nem tudo o que se diz é a mais pura das verdades, mas o que é que isso tem?!
O que importa é conquistar, e , se para isso se tem que ser um bocado "bazófias", paciência!
Para grandes males, grandes remédios, não é o que o povo diz?!

O QUE NUNCA TE DISSE

"O conjunto de todas estas coisas, acabou inevitavelmente por me fazer mudar a forma como eu te via.
Deixei de te ver da mesma forma.
Foi mais ou menos como se limpasse uns óculos que estavam embaciados.
Passei a ver mais e melhor.
Passei a dar atenção a pequenos detalhes que até então me passavam despercebidos.
A forma como eu te via mudou, e , com isso mudou também o que eu sinto."

Claro!
Ela abrira os olhos!
Ou melhor, ele acabara por fazer com que ela abrisse os olhos, e visse o que até então lhe passara despercebido.
Que afinal ele não era bem quem ela pensara que ele era, não era a pessoa por quem se fizera passar para a conquistar.
E quem é que o podia censurar por isso?!

O QUE NUNCA TE DISSE

Bolas!
Aquela atingira-o como se tivesse levado um soco no estômago!
Era muita revelação junta!
"Amei-te", escrevera ela! NO PASSADO!!!
Isso queria dizer que graças a todas as parvoíces, pensadas e impensadas que ele fizera, a tinham afetado/desiludido/magoado de tal maneira que fora obrigada a deixar de o amar.
Ele fizera-lhe mal!!
Tão mal, que ela não tivera outra alternativa senão ir-se embora, deixar aquele amor que afinal só a destruía, que lhe fazia mal!
E, deixá-lo a ele.
Ele que só se preocupara com ele próprio.
Ele que nunca fizera dela uma prioridade para si.
Ele, que no fundo fora quem a incitara a ir-se embora e a deixá-lo a sós consigo mesmo.
Deixara-o com a única pessoa com quem ele se preocupava e com quem se importava a sério, ou seja, ele próprio!
E, fora tudo isso que a afastara, provavelmente para sempre!
Tudo culpa dele!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Há uma coisa que eu tenho que admitir, e por muito que me custe, é a verdade.
Tu, foste o melhor e o pior que me aconteceu.
Não posso de forma alguma, até porque as minhas memórias não deixam, esquecer todos os momentos bonitos que vivi contigo.
Talvez, os comece agora a ver de forma diferente, mas continuo a ter boas recordações nossas.
Passamos bons momentos na companhia um do outro.
Amei-te como nunca amei ninguém.
Mas, por outro lado, foste a pessoa que consciente ou inconscientemente mais mal me fez.
Magoaste-me de formas que eu nem julgava possível, e mesmo assim não consigo de forma alguma guardar-te ressentimentos pelo que quer que seja que me tenhas feito.
Nunca percebeste o que estavas a destruir."

O QUE NUNCA TE DISSE

Sim, houvera de fato um momento na relação deles em que ele se afastara dela.
Bastante subtilmente, pensara ele.
Não fora bem um teste, porque ele tentara ao máximo disfarçar aquele afastamento.
Precisara de "espairecer", apanhar um ar fresco, fora da relação deles.
Resumindo, afastara-se um pouco, para explorar outros meios, digamos assim.
Havia muita coisa que ela não sabia, era certo.
Mas, também havia muita coisa que ele também não sabia afinal.
Apesar de perceber que eram coisas diferentes,mas também ela lhe omitira muitas coisas, pensou ele.
Uma coisa ele tinha que admitir, ela tratara-o sempre como prioridade e punha-o muitas vezes em primeiro lugar, em detrimento dela própria.
Já ele, era única e exclusivamente a prioridade dele próprio.
Punha-se sempre em primeiro lugar.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

" Eu sei que inicialmente fui o que se pode chamar de "difícil". Difícil de conquistar, difícil de convencer.
Passei muito tempo a fugir.
Fugia do que sentia, fugia de ti, fugia do que me querias oferecer (fosse lá o que fosse, afinal), fugia de uma relação séria...
Passava o tempo a fugir, mas, quando finalmente me preparava para ficar, foste tu quem se afastou, ainda que pensasses que eu não me dera conta, que não tinha percebido.
Eu percebi.
Não sabes o que isso me afetou!
O que pensei...o que senti!
Foi como se me tirasses o tapete debaixo dos pés (o que já começava a ser um hábito)!
Pensei que já não gostavas de mim, que já não querias estar comigo a 100% (e eu nem sequer sabia o que significava isso afinal).
Que, talvez até gostasses de outra pessoa.
Passaram-me mil e uma coisas pela cabeça, e a verdade é que não cheguei a saber se era só um afastamento por capricho, se era um teste, se já não me querias.
Curiosamente, acabaste por te afastar de mim no momento em que mais precisei de ti.
Não sabia mais o que pensar.
Fiquei perdida num mar de dúvidas e questões, para as quais não tinha resposta.
Sofri.
Mais uma vez sofri.
Sofri sozinha. Sofri em silêncio."

O QUE NUNCA TE DISSE

Ou talvez estivesse errado e ela só quisesse que ele soubesse umas quantas coisas que não lhe tinha dito.
Talvez ela achasse que ele ia retirar dali uma lição.
E, estava mesmo.
Talvez nem estivesse a planear nada quando começara a escrever, talvez, quisesse só escrever ali naquele caderno os desabafos que não contava a ninguém.
Ele sabia que ela não era muito de falar, sobre certas coisas, por isso parte do que ele lera vinha reforçar a convicção dele, que ela não falara muito sobre ele ou sobre a relação deles a ninguém.
Engraçado, não era de falar, mas tinha tanto para dizer.
Já ele, falava tanto e acabava por não dizer praticamente nada.

O QUE NUNCA TE DISSE

Teve que se afastar um pouco do caderno cor-de-rosa.
Desde que o tinha encontrado, ele absorvera-o. Absorvera a sua vida.
A sua rotina era pautada pelas leituras religiosas do caderno.
Não se permitia grandes refeições, porque não queria fazer pausas grandes.
Tinha necessidade de ler.
Era como se aquele caderno...era como sentir ali a sua presença.
Era como ir ao encontro dela, de cada vez que o lia. Das suas palavras, dos seus sentimentos.
Mas, ás vezes, aquelas folhas aparentemente inofensivas, ofendiam-o, atingiam-o com uma grande intensidade.
Havia ali palavras, revelações que o afetavam, que o desorientavam e o faziam refletir.
Talvez, no fundo fosse esse o objectivo dela, ou então, talvez quisesse "desabafar", mas como as coisas entre eles chegaram...ao que chegaram...talvez se tenha visto obrigada a deixar-lhe o diário. Que era quase um diário da relação deles, na perspectiva dela.

O QUE NUNCA TE DISSE

Era, oh, claro que era diferente dele!
Em que estava ele a pensar para a comparar com ele?!
De repente, o pensamento que se lhe atravessou na cabeça deixou-o totalmente enojado.
Não suportava a ideia de outro homem lhe tocar como ele o fizera!
Não suportava sequer pensar que outro homem ia beijá-la nos lábios que outrora foram seus, todos seus!
Nem queria acreditar como tinha sido burro!
Onde estaria ela agora?
O que estaria ela a fazer?
Teria ela já encontrado alguém, um outro homem, que a tratasse melhor do que ele, e lhe desse mais valor?!
Quis acreditar que não, porque a ideia de ela estar com outra pessoa era simplesmente devastadora.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O QUE NUNCA TE DISSE

"Ás vezes, quando me irritas, gostava de te dizer um "vai á merda" diretamente e deixar-te ali a irritares as paredes!
Eu sei, não é muito bonito, e talvez por isso e por respeito por ti nunca o disse.
Mas, que muitas vezes tive vontade, tive!"

O que?!
Ora bolas, se tinha vontade de o mandar á merda, que mandasse!
Afinal de contas, era tão sincera, tão sincera que lhe omitia uma série de coisas!
Se calhar, não era assim tão diferente dele!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Eu sei, deves estar a pensar que não estou boa da cabeça, mas se pensares um bocadinho, acho que vais saber ao que me refiro.
De certeza que pensaste que sabes bem o que queres e lutas pelo que queres com entusiasmo e persistência.
Tenho que admitir que sempre admirei a tua persistência.
És insistente e não desistes facilmente quando queres uma coisa.
Mas, tem cuidado, isso tanto pode ser bom, como mau, dependendo do objectivo final.
Pensa nisso."

Que mania era aquela de o mandar pensar nisto e naquilo?
Estava armada em psicóloga agora?

O QUE NUNCA TE DISSE

"Acusaste-me tantas vezes de eu não saber o que quero, quando na verdade eras tu que não sabias!"

O quê?!
É claro que ele sabia o que queria!
Aliás, sabia-o muito bem!
Ela é que era a insegura, a que nunca tinha certezas sobre isto ou aquilo!
Ele sempre soube o que queria, e mais, sempre lutara pelo que queria.
Não era de baixar os braços, quando queria alguma coisa.
Era persistente!

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sinceramente ás vezes penso que és uma criança presa no corpo de um adulto.
Ás vezes, devias comportar-te mais de acordo com a idade que tens.
Pensa nisso!"

Bom, esta pelo menos ele já sabia!
Por vezes, ela chateava-se quando não conseguia ter com ele uma conversa séria, ou quando ele se continuava a portar como um miúdo, mesmo após as advertências dela.
Era imaturo e ela dissera-lho uma vez.
Ele como de costume, não ligara!
Era portanto, mais um defeito a acrescentar á lista.
E, já lhe parecia uma lista bastante longa.

O QUE NUNCA TE DISSE

" Foi como um murro no meio dos olhos!
De um momento para o outro, percebi que não te conhecia.
Que nunca soube quem eras tu afinal.
Fiquei desorientada, sem saber o que fazer, sem saber o que era real afinal.
Foi como...foi uma desilusão.
Pensei, onde andara eu afinal todo este tempo, que não percebi, que não consegui perceber.
Que não consegui ver."

Será que ainda se referia ao Facebook?
Ou estava a tentar dizer-lhe que ele fora uma completa desilusão?!
Ás vezes, o diário parecia-lhe meio desconexo, não sabia era se tinha sido intencional, ou se ela ia escrevendo o que lhe ia na cabeça e na alma. Talvez fosse mais isso.
Nem parecia seu, mas a espécie de diário cor-de-rosa (a cor era no mínimo um espelho de ironia), não fora metodicamente organizado, ou pelo menos era o que lhe parecia.
Talvez ela também aproveitasse mais para escrever no caderno, naqueles dias em que ele certamente a desiludia á força toda.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Sabes, desde que vi certas coisas no Facebook, comecei a ficar mais atenta a certos sinais que até aí, consciente ou inconscientemente decidira ignorar.
O meu problema agora é que, mesmo que quisesse não consigo ignorar, porque a minha imaginação faz o favor de falar mais alto.
A verdade é que me dá náuseas só de pensar que possas estar com outra pessoa da mesma forma que estás comigo.
Só de imaginar, dá-me vómitos!
E, por mais que eu queira esquecer tudo o que li, e acreditar que tu não serias capaz de me fazer uma coisa dessas, não consigo."

Há quanto tempo teria ela lido aquelas coisas no Facebook?
Oh, maldito Facebook!
Maldito descuido!
Na verdade, ele também sabia o que era ir ao Facebook e ver coisas que não gostava.
Sabia o que era sentir ciúmes dela, apesar de ela provavelmente nem sonhar que ele os tinha.
Sempre se mostrara seguro e inabalável, mas também não gostava quando aqueles tipos comentavam as fotos dela e diziam que era linda, ou qualquer que fosse a cantilena que lançassem para cima dela a fim de a "pescar".
Típica estratégia de engate.
Dizer ás miúdas que são lindas, fantásticas, divertidas e mais uma carrada de mentiras, se for preciso, para as conquistar.
Ele próprio já usara essa técnica, e quando via indícios de algo semelhante por parte de outro "macho" em relação a ela, não gostava.
Não gostava mesmo nada!
Mas, sabia que ela era incapaz de o trair.
Sabia que não o trairia com outro, nem que fosse mais bonito, mais engraçado, mais musculoso, ou o que quer que fosse mais que ele, porque o amava.
Porque ela dava valor a outras coisas para lá da aparência.
Certas coisas, que afinal ele também não tinha, mas isso ela só percebeu mais tarde.
Talvez tarde demais para se proteger, para não se magoar.
E ele, ele devia ter dado valor ao amor dela.
Mas não dera.

O QUE NUNCA TE DISSE

"Nunca te importaste em fazer o que eu queria.
Nunca tentas te agradar-me e não te importava o que me fazias sentir, fosse bom ou mau.
E, isso, deixou-me triste.
Deixou-me triste por muito tempo."

Como é que nunca se apercebera que o que fazia...as consequências do que fazia....o que a fazia sentir.
Não prestara atenção suficiente.
Não prestara a atenção suficiente a nada.
Fosse ou não importante.
Era egoísta e egocêntrico!
Nem sequer percebia o quanto era capaz de a magoar.
Mas, também, se ela não lhe dizia, como queria que ele soubesse?!
Talvez ela até lhe dissesse certas coisas....e ele não prestara atenção.